The next right thing

“Você só precisa se levantar, depois vestir a roupa do ballet, depois entrar no carro e depois iniciar a aula” – é assim que minha mente conversa comigo todas as segundas e quartas, os dias das minhas aulas de clássico, para me fazer sair de casa. Esse tratamento comigo mesma me lembra muito a música “The next right thing”, da trilha de Frozen II cantada lindamente por Kristen Bell. É uma música sobre não conseguir continuar, mas assumir um único compromisso: o de fazer “a próxima coisa certa”. Ontem, eu consegui. Hoje, não tive o mesmo sucesso. Hoje é quinta e eu teria jazz, mas não tive forças físicas ou emocionais para ir. O corpo já estava exausto do ballet de ontem à noite e as notícias matinais me deixaram com a energia muito baixa – e muito triste. O pouco de vontade que me restava, esmaeceu. Senti muita culpa por faltar, culpa essa que ainda está ainda latente, mas a inércia falou mais alto. Acredito que muitas que me lêem nesse momento vão entender. A gente começa a aceitar as limitações que aparecem no caminho – e se sente péssima por isso.

Na segunda-feira, por exemplo, eu tomei a terceira dose da vacina e, como naturalmente tive dor no braço e uma reação leve, já foi um “alívio” e uma desculpa para faltar. “Mas você não gosta mais de fazer aulas de dança? Então, por que faz?”. Seria simples se fosse isso. Mas quando se trata de saúde mental, venho aprendendo que nada é simples e o labirinto só aumenta de tamanho. Eu nunca fui fã de exercício físico. Sempre fui de ficar mais em casa, brincando em casa, criando em casa, escrevendo, desenhando e usando o computador desde muito pequena. A única coisa que eu realmente gostava de fazer com meu corpo era, de fato, dançar. Mas não pelo movimento ou pelo cansaço relaxante que sentia depois, mas por sentir a criatividade agindo por meio do corpo, pela estética, pela realização de algo. Foi por isso que me apaixonei pelo ballet clássico: por sua estética, por sua arte e suas histórias – e não porque “gosto de me exercitar por meio da técnica clássica”, que é dificílima e muito exigente com adultas como eu, que estão perdendo mais e mais a força física. Isso me fez lembrar também que a aula ontem não foi fácil nesse quesito. Tenho sentido novas dores na virilha e o grand plié tem sido um suplício. Perco força a cada dia e sinto isso a cada aula. A solução? Fortalecimento. E voltamos à obrigação de mexer o corpo. Eu só queria poder ficar paradinha, na minha… sabe? A minha motivação de seguir com o ballet sempre foi ver os meus resultados e evolução, na sala e no palco. Nos últimos tempos, não tenho visto resultados, apenas meu corpo dando passos para trás. Palco, não vejo desde 2019 por causa da pandemia. Junta isso tudo com ansiedade e talvez um princípio de depressão que preciso investigar e temos o resultado de: dançar pra que? É triste. Muito triste.

Em terapia, eu busco entender e mergulhar em mim mesma e esse é um auto-serviço que nunca acaba. No fim das contas ninguém vem te salvar ou ajudar, essa tarefa cabe a você mesma. Eu não quero desistir. Nem do ballet e nem de mim. Então, busco lidar com isso e eliminar a culpa quando eu falto. Seja escrevendo, como agora, ou conversando com quem passa pelos mesmos desafios. E sigo vivendo um dia de cada vez e fazendo a próxima coisa certa por mim.